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Quando começa o amanhecer?

 

Não me atrevo a dizer nada sobre o Nobel literário de Bob Dylan. Controvérsias à parte. Eu quero amanhecer.  Entretanto, me faço anunciadora de Retalho do Mundo, novo disco da cantora, compositora e poeta Isabella Bretz.

A música em Retalho do Mundo caminha literalmente. Uma marcha. Um naco da natureza humana nesse universo.

O medo faz desaguar nas memórias de rios, lugares amanhecidos de mar e casas pintadas de cores alaranjadas sempre entardecendo.  Ao ouvir o disco várias vezes, tive a companhia das minhas gatas, Diadorim e Nastenka, que me ajudaram a compor a escrita dessas notas sobre o disco de Isabella Bretz.

Gatos e música são sempre boas companhias.

Vou coexistindo com músicas e gatos nos fragmentos do cotidiano que passam cheios de miudezas tão impregnadas de destinos que não se veem.  Dessas miudezas cantam as músicas do disco.

Tantas pequenezas que nos fazem sentir que existimos e estamos aqui, interligados, desejantes de devaneios, boas novas através de manchetes caramelizadas.

Caminhe…

Devaneie…

A alma inunda-se de esperanças, pequenas que sejam são esperanças.

Esperança: do verbo esperançar. Eu esperanço com Faísca de pó. É o que posso fazer em minha pequenina missão de aliviar outra vida, por mais que o mundo rotule vidas. Quem tem vida grande ou vida pequena.  Tornar uma pequena vida um pouco menos sofrível nesse imenso mundo de vidas que se comparam.

Eu me esperanço com faíscas de pó, devaneios e estilhas.

Quando você chegar lá no final do disco, no seu lado b, prepare-se para desligar-se de pequenos medos gigantes. Não deixe falas interminadas, tudo é brevidade. Repouse no repouso desse disco que nasce nesse ano de muitas falas interminadas.

Retalho do Mundo vem transfigurar o sofrimento num grande sim à vida.  Fez-me lembrar do músico filósofo, Nietzsche, que nos diz “Sem a música, a vida seria um erro”, escreveu em Crepúsculo dos Ídolos. Em seu “poder de dizer sim ao mundo”, a música para Nietzsche é uma iniciação à felicidade, à vida e à filosofia.

Elisa de Jesus por Lorena Zschaber

O convite é para repousar e deixar que a música ilumine, seja farol, mar, fragmento, faísca, devaneio, alegria, poesia e uma dose cheia de filosofia para crer em possibilidades.

uma cadeira vazada,

uma penteadeira, uma

luz humilde iluminava

a penumbra.

Eram preces que

avançavam silêncios

expressões

secretas.

Suas asas apoiavam

pérolas.

anjos que

pintei.

ouvia sons do mar.

flautas doces em Fa.

 

Por Elisa de Jesus
“Poeta, escritora ou o que dizem de mim…”

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