Em 2015, a cantora e compositora brasileira Isabella Bretz conheceu em Belo Horizonte o escritor português José Luís Peixoto, cujo trabalho lhe havia sido apresentado anteriormente por um amigo. Um tempo depois, ao entrevistá-lo para seu programa de rádio, emocionou-se mais uma vez quando ele recitou “Na hora de por a mesa”. Ao ver sua reação, ele sugeriu que ela fizesse uma música com o poema. Meses depois a música ganhou vida e foi enviada a ele. Seu retorno, muito positivo, foi um incentivo para que ela desse início a um projeto de poemas musicados, vontade antiga mas ainda não realizada. Alguns formatos lhe passaram pela cabeça, como uma reunião de seus escritores preferidos, contemporâneos ou não. Posteriormente, resolveu trabalhar apenas com poemas de escritores vivos, para que eles pudessem ouvir suas palavras através dos sons.
Instigada por sua paixão por interculturalidade, Isabella percebeu-se inconformada com a fraca presença de literatura estrangeira em português na sua vida. O que se escreve no Timor-Leste? Que poetisas e poetas passeiam por São Tomé e Príncipe? Que palavras nascem das canetas cabo-verdianas?
Decidiu, então, gravar um disco com 8 poemas musicados: todos de países que têm o português como língua oficial. Após um processo de leituras e pesquisas, escolheu quais escritores estariam presentes no disco: Adélia Prado (Brasil), José Luís Peixoto (Portugal), Mia Couto, (Moçambique), Conceição Lima (São Tomé e Príncipe), Vera Duarte Pina (Cabo Verde), Odete Semedo (Guiné-Bissau) Ana Paula Tavares (Angola) e Crisódio T. Araújo (Timor-Leste).
Mesmo com o plano feito e a maioria dos poemas já musicados, o projeto só existiu verdadeiramente devido ao interesse do pianista e produtor musical Rodrigo Lana em torná-lo realidade, através de uma parceria com o Música Mundi. Seu sócio, o violinista Matheus Félix, entrou no barco e os três desenvolveram o disco ao longo de 10 meses. Assim nasceu “Canções Para Abreviar Distâncias: uma viagem pela língua portuguesa”, que recebeu o apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP.
A sonoridade não foi pensada de forma homogênea, mas seguiu o que cada canção pedia individualmente, de acordo com os sentimentos e sensações que os textos os transmitiram. Piano, violino e violão são os instrumentos centrais; acompanhados de acordeon, baixo, viola, violoncelo, percussões, instrumentos digitais e outros efeitos. Ao vivo, o trio oferece uma outra experiência, apresentando as músicas em arranjos para instrumentos tocados por eles próprios, sem deixar de lado os sons digitais.
A capa foi feita por Jackson Abacatu e oito ilustradores brasileiros foram convidados para representarem os poemas em obras que estão presentes no encarte do CD. A decisão de trabalhar com escritores vivos tem trazido belas experiências. Em junho deste ano, Isabella, Rodrigo e Matheus tiveram o privilégio de apresentar a gravação do seu poema a Mia Couto, num encontro caloroso e cheio de trocas de experiências musicais e literárias. Em novembro será a vez de se encontrarem com Vera Duarte Pina, num festival literário em Cabo Verde, a convite da Embaixada do Brasil.
Assim, com palavras, imagens e sons, em meio a distâncias geográficas e temporais, a linguagem se faz um grande vínculo, mostrando anseios comuns que nos unem como seres humanos. O resultado disso tudo o público conhecerá no Espaço Espelho D’Água, dia 1º de outubro, às 19h. Entrada Livre.
Apoio: Junta de Freguesia de Rio de Mouro
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