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novembro 2020

QUANDO COMEÇA O AMANHECER? RESENHA DO ÁLBUM “RETALHO DE MUNDO” POR ELISA DE JESUS

By notícias | news No Comments

Quando começa o amanhecer?

 

Não me atrevo a dizer nada sobre o Nobel literário de Bob Dylan. Controvérsias à parte. Eu quero amanhecer.  Entretanto, me faço anunciadora de Retalho do Mundo, novo disco da cantora, compositora e poeta Isabella Bretz.

A música em Retalho do Mundo caminha literalmente. Uma marcha. Um naco da natureza humana nesse universo.

O medo faz desaguar nas memórias de rios, lugares amanhecidos de mar e casas pintadas de cores alaranjadas sempre entardecendo.  Ao ouvir o disco várias vezes, tive a companhia das minhas gatas, Diadorim e Nastenka, que me ajudaram a compor a escrita dessas notas sobre o disco de Isabella Bretz.

Gatos e música são sempre boas companhias.

Vou coexistindo com músicas e gatos nos fragmentos do cotidiano que passam cheios de miudezas tão impregnadas de destinos que não se veem.  Dessas miudezas cantam as músicas do disco.

Tantas pequenezas que nos fazem sentir que existimos e estamos aqui, interligados, desejantes de devaneios, boas novas através de manchetes caramelizadas.

Caminhe…

Devaneie…

A alma inunda-se de esperanças, pequenas que sejam são esperanças.

Esperança: do verbo esperançar. Eu esperanço com Faísca de pó. É o que posso fazer em minha pequenina missão de aliviar outra vida, por mais que o mundo rotule vidas. Quem tem vida grande ou vida pequena.  Tornar uma pequena vida um pouco menos sofrível nesse imenso mundo de vidas que se comparam.

Eu me esperanço com faíscas de pó, devaneios e estilhas.

Quando você chegar lá no final do disco, no seu lado b, prepare-se para desligar-se de pequenos medos gigantes. Não deixe falas interminadas, tudo é brevidade. Repouse no repouso desse disco que nasce nesse ano de muitas falas interminadas.

Retalho do Mundo vem transfigurar o sofrimento num grande sim à vida.  Fez-me lembrar do músico filósofo, Nietzsche, que nos diz “Sem a música, a vida seria um erro”, escreveu em Crepúsculo dos Ídolos. Em seu “poder de dizer sim ao mundo”, a música para Nietzsche é uma iniciação à felicidade, à vida e à filosofia.

Elisa de Jesus por Lorena Zschaber

O convite é para repousar e deixar que a música ilumine, seja farol, mar, fragmento, faísca, devaneio, alegria, poesia e uma dose cheia de filosofia para crer em possibilidades.

uma cadeira vazada,

uma penteadeira, uma

luz humilde iluminava

a penumbra.

Eram preces que

avançavam silêncios

expressões

secretas.

Suas asas apoiavam

pérolas.

anjos que

pintei.

ouvia sons do mar.

flautas doces em Fa.

 

Por Elisa de Jesus
“Poeta, escritora ou o que dizem de mim…”

NOVO VÍDEO PARA AS CANÇÕES “RETALHO DE MUNDO” E “O RIO E O MEDO”

By blog, notícias | news No Comments

Isabella já não se lembra se o ano era 2014 ou 2015, mas a sensação permanece intacta. Leu um parágrafo na internet que trouxe arrepios. Era a história de um rio que tremia de medo ao se aproximar da morte, no seu final encontro com o oceano. Aquelas palavras permaneceram em sua mente e geraram uma série de reflexões. O impacto foi grande, fazendo com que ela desejasse que outras pessoas o sentissem também. Decidiu que escreveria uma música inspirada naquela mensagem. 

O tempo passou, certo dia pegou o violão e começou a dedilhar. Os primeiros quatro acordes apareceram e ela não conseguia sair deles. Percebeu que o ciclo deveria permanecer, dando a sensação de uma corrida. A letra e a melodia foram aparecendo juntas, reconstruindo a narrativa com mais detalhes, momentos, sensações. A música recebeu o nome de “O Rio e o Medo”, e Isabella começou a tocá-la nos seus shows. A resposta do público foi maravilhosa, muitas pessoas embarcaram nessa viagem musical com ela e se emocionaram. 

Em preparação para o disco Retalho de Mundo, iniciado em 2015, Isabella e o produtor musical, Fernando Braga, convidaram Felipe José para fazer o arranjo. “Eu queria que fosse uma mistura de confusão, intensidade e beleza. E foi exatamente o que o Felipe fez! Gosto da forma criativa como ele manuseia os sons.”, diz a compositora. Mesmo depois de o arranjo ter sido escrito, a produção ainda tomava outros contornos. “Estava ouvindo o ensaio para a gravação e teve um momento em que a baqueta do Yuri Vellasco caiu no chão, gerando um espaço breve sem bateria . Eu achei sensacional e pensei imediatamente que isso deveria ser parte do arranjo. O produtor concordou, falamos com o Yuri e assim ele fez! No clipe, essa diferença foi fundamental.”, diz Isabella.

A Operação Escambo, projeto inédito criado por Isabella para levantar recursos para seu disco através da doação de serviços, foi imprescindível para que a música contasse com esses instrumentos. Piano, violão, baixo, bateria, viola, violoncelo, dois saxofones, trompete, trombone, clarinete e baixo acústico, numa dança instigante, são o cenário para essa corrida sem volta do rio. 

“Eu já tinha lido várias coisas do Osho. Leio muito, aprendo com muita gente, mas não sigo gurus. Acho complicado o que se constrói em volta deles. Quantos exemplos nós já tivemos de idealizações que caíram por terra…  A luz e a escuridão caminham lado a lado, nosso filtro tem que estar sempre em dia. É preciso ver as pessoas com a humanidade que elas têm. Assisti o documentário “Wild wild country” e ele mexeu muito comigo. Questionei muito a relação entre mensagem e mensageiro. Mas eu não podia negar a força que essa história teve sobre mim, me afetou de uma forma diferente. Pensei em muitos aspectos sobre a forma como conduzimos nossas vidas.”, conta a artista.

As cenas do vídeo são de vários lugares, principalmente Brasil e Portugal. Isabella incorporou em “O Rio e o Medo” a faixa de abertura, “Retalho de Mundo”, como se fossem uma só. Para ela, essas mensagens se complementam. Foram pensadas para soarem juntas, sem um ponto de interrupção. Assim, o clipe representa as duas.

“Eu sempre disse que se fosse fazer um vídeo para essa música, queria contratar uma ótima agência. Fazê-lo sem a estrutura ideal estava fora de cogitação pra mim, tinha muito receio de prejudicar a mensagem. Mas, obviamente, eu não tinha recursos para isso. Uma sementinha nasceu e fui me inquietando. Eu já tinha todo o roteiro em mente e já havia editado alguns vídeos antes. Conversei com minha irmã e meu cunhado, Danielle Bretz e Ricardo Rodrigues, para ver se me ajudavam. A ideia era apenas tentar, se ficasse ruim não usaríamos. Sem ter feito nada parecido antes, mergulhamos no desafio. O resultado me surpreendeu.”, diz a artista. Por se tratar do encontro das águas, não poderia faltar uma potente menção à Pororoca. 

O disco “Retalho de Mundo” será lançado no dia 25 de novembro. Mais informações no Instagram: @bellabretz.