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Africa, aqui estou!

By julho 12, 2011julho 18th, 2016blog

“Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…”

Fernando Pessoa

Resolvi criar esse blog para compartilhar as coisas que vejo, sinto, ouco… (Nao, nao tenho cedilha nem acentos nesse computador). Assim, comeco por essa experiencia maravilhosa que se inicia, em Mocambique.

Apos muitos problemas e horas de viagem, cheguei. Beira e linda vista la do ceu. Cheguei e meus companheiros de viagem estavam me esperando do aeroporto. Nao tenho palavras para expressar a alegria incalculavel que senti ao ver minhas duas malas deitadinhas na esteira, esperando pelo resgate. Fiquei dias pensando em taticas para que chegassem no dia certo e com todo o material que consegui, com ajuda de queridos amigos. 

A preocupacao foi porque aqui e comum as malas chegarem com dias de atraso, por vezes violadas. Mas tudo deu certo. O grupo almocou no aeroporto. Enquanto fui no andar debaixo tirar dinheiro no caixa, vi dois garotinhos roubarem um pote de balas de uma das lojas. Assim comecou. Chegamos na casa em que estamos instalados e deixei as coisas. Fomos a pe para um mercado aqui perto. Andamos por ruelas, sempre de terra. Fomos entrando, entrando… Atravessamos uma linha de trem tomada por arbustos e la uma cena curiosa: um garotinho de uns 4 anos com as calcas abaixadas, fazendo xixi. Olhou para nos, subiu as calcas e saiu correndo, seguindo a linha. Chegamos no mercado e era absurdamente diferente de tudo que ja vi na vida. Era como um bairro fechado, uma vila, com casas muito pobres, barracas e lonas estendidas no chao com mercadorias. Um grande numero de criancas, muitas vezes as maiores sendo as responsaveis pelo comercio. Vendia de tudo: roupas, calcados, artigos de higiene, bebidas, frutas, legumes, entre outros. Muitas capulanas, tecidos coloridos que as mulheres enrolam e prendem na cintura, usando como saias. As pessoas sao bem pobres, usam roupas muito simples, por vezes rasgadas e sujas, especialmente as criancas. Mas o que mais me chamou atencao foi o tipo de atencao que nos davam. Nao havia uma pessoa que nao olhasse quando passavamos. Era um olhar diferente, que nao sei explicar. Mulheres sentadas na porta sorriam e diziam “Boa tarde!”, num portugues incomum aos meus ouvidos. Olhavam como se fossemos de outro planeta, como salvadores ou sei la. So sei que nao me senti confortavel de nenhuma forma. Quando acenavamos para as criancas, abriam um grande sorriso e acenavam de volta, como se tivessem sido agraciadas com algum premio. As vezes pessoas se aproximavam so para nos olhar. Nao gostei daquilo, so queria ir embora dali ou simplesmente poder andar e observar sem ser percebida. Acho que o problema era estarmos em um grupo relativamente grande, de umas 10 pessoas. Nao quis tirar nenhuma foto la pois achei desrespeitoso.

Pela noite fomos jantar na casa de uma conhecida de um dos integrantes do grupo. Era uma familia de classe media. Uma mesa bem bonita e bem posta, uma comida deliciosa. Bacalhau, arroz com couve, arroz de coco, feijoada, salpicao de frango e legumes. Senti em Minas!

Domingo fomos para o Parque Gorongosa. A viagem de 4 horas passou rapido, havia muito o que ver pelas janelas. Muitas pessoas moram no meio do nada, em casas extremamente humildes, feitas de bambu e palha. Pequenas cabanas com varais na frente. Fiquei impressionada com a quantidade de andarilhos. De tempos em tempos apareciam pessoas que nao se podia imaginar de onde partiram e para onde iam, tamanha distancia entre provaveis moradias. Muitas mulheres carregando bebes enrolados em seus corpos em belos tecidos gastos. Criancas e jovens tambem carregavam. Vi varias mulheres carregando coisas na cabeca e bebes, ao mesmo tempo. Uma carregava uma enxada apoiada na cabeca com a mao direita e na mao esquerda trazia seu filho.

Chegamos em Gorongosa e ai vem a parte alegre. Como o tempo estava fechado, nao pudemos fazer o trajeto para ver o por-do-sol que queriamos. Assim, aqueles que quiseram – nao preciso dizer que isso incluia a minha pessoa – resolveram ir em um Safari. Nossos planos eram de ir apenas na segunda pela manha. Fomos e foi espetacular! Nunca imaginei fazer algo do tipo na vida. Era realmente incrivel. Animais passavam pertissimo de nos. Estavamos ansiando por algo muito especial, como leos ou elefantes. Mas so viamos animais pequenos, entretanto, nao menos graciosos. De repente, um dos meus amigos quase gritou “aliiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!” (nao gritar e uma das regras fundamentais em um Safari), e….

Como podem ver, era realmente “ali”. Nao tem como expressar o quao divertido foi. Parecia um filme. Alem do mais, a companhia era incrivel, pessoas divertidissimas. Durou tres horas e terminamos ja a noite. So se via o que os farois iluminavam e um belo ceu escuro. Jantamos no restaurante do Parque e fomos dormir. Ha tempos nao dormia tao cedo, mas as 5:30 da manha estariamos de pe para outro Safari. Assim fizemos e foi da mesma forma maravilhoso. Vimos muitos animais bonitos. Mas a parte que mais me tocou foi quando chegamos em um grande espaco aberto, um campo enorme, gigante. Realmente senti-me na Africa. Era lindo e trazia uma paz muito grande. Todos estavamos muito felizes por estarmos la. Senti gratidao pela vida, de forma geral.

                                 

Depois mostro as fotos do Safari. Na verdade um dos meus amigos tirou fotos maravilhosas. Vou esperar ate ter as dele.

Hoje fomos a uma vila, realmente uma vilazinha. Foi impressionante. Era bem rustica, as criancas ficaram encantadas com nossa presenca la. Brincavamos com elas e ficavam muito felizes. Adoravam fotos e exigiam ve-las depois de tiradas. Certas, claro! Nao queremos expor a imagem de alguem sem ter certeza de que esta bom! Voces, facebookers, deviam aprender com isso antes de “tag” a todos sem autorizacao. Construimos bancos. Foi uma tarde extremamente divertida. Obviamente, as condicoes eram deprimentes. Nao e nem uma questao de condicoes, porque simplesmente nao ha nenhuma. Mas no lugar de do ou pena, so conseguia sentir amor por eles. Estavamos tento uma tarde tao agradavel ao lado deles. Eramos iguais, ali. Todos seres humanos. 

Conto mais depois, time is over. Agora estamos em casa. Um cartaz branco esta pendurado na beliche, um projetor numa cadeira de plastico esta na frente. Atras dele um notebook ligado a tres caixinhas de som e assistimos Rei Leao. Ate mais…

 

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