Isabella já não se lembra se o ano era 2014 ou 2015, mas a sensação permanece intacta. Leu um parágrafo na internet que trouxe arrepios. Era a história de um rio que tremia de medo ao se aproximar da morte, no seu final encontro com o oceano. Aquelas palavras permaneceram em sua mente e geraram uma série de reflexões. O impacto foi grande, fazendo com que ela desejasse que outras pessoas o sentissem também. Decidiu que escreveria uma música inspirada naquela mensagem.
O tempo passou, certo dia pegou o violão e começou a dedilhar. Os primeiros quatro acordes apareceram e ela não conseguia sair deles. Percebeu que o ciclo deveria permanecer, dando a sensação de uma corrida. A letra e a melodia foram aparecendo juntas, reconstruindo a narrativa com mais detalhes, momentos, sensações. A música recebeu o nome de “O Rio e o Medo”, e Isabella começou a tocá-la nos seus shows. A resposta do público foi maravilhosa, muitas pessoas embarcaram nessa viagem musical com ela e se emocionaram.
Em preparação para o disco Retalho de Mundo, iniciado em 2015, Isabella e o produtor musical, Fernando Braga, convidaram Felipe José para fazer o arranjo. “Eu queria que fosse uma mistura de confusão, intensidade e beleza. E foi exatamente o que o Felipe fez! Gosto da forma criativa como ele manuseia os sons.”, diz a compositora. Mesmo depois de o arranjo ter sido escrito, a produção ainda tomava outros contornos. “Estava ouvindo o ensaio para a gravação e teve um momento em que a baqueta do Yuri Vellasco caiu no chão, gerando um espaço breve sem bateria . Eu achei sensacional e pensei imediatamente que isso deveria ser parte do arranjo. O produtor concordou, falamos com o Yuri e assim ele fez! No clipe, essa diferença foi fundamental.”, diz Isabella.
A Operação Escambo, projeto inédito criado por Isabella para levantar recursos para seu disco através da doação de serviços, foi imprescindível para que a música contasse com esses instrumentos. Piano, violão, baixo, bateria, viola, violoncelo, dois saxofones, trompete, trombone, clarinete e baixo acústico, numa dança instigante, são o cenário para essa corrida sem volta do rio.
“Eu já tinha lido várias coisas do Osho. Leio muito, aprendo com muita gente, mas não sigo gurus. Acho complicado o que se constrói em volta deles. Quantos exemplos nós já tivemos de idealizações que caíram por terra… A luz e a escuridão caminham lado a lado, nosso filtro tem que estar sempre em dia. É preciso ver as pessoas com a humanidade que elas têm. Assisti o documentário “Wild wild country” e ele mexeu muito comigo. Questionei muito a relação entre mensagem e mensageiro. Mas eu não podia negar a força que essa história teve sobre mim, me afetou de uma forma diferente. Pensei em muitos aspectos sobre a forma como conduzimos nossas vidas.”, conta a artista.
As cenas do vídeo são de vários lugares, principalmente Brasil e Portugal. Isabella incorporou em “O Rio e o Medo” a faixa de abertura, “Retalho de Mundo”, como se fossem uma só. Para ela, essas mensagens se complementam. Foram pensadas para soarem juntas, sem um ponto de interrupção. Assim, o clipe representa as duas.
“Eu sempre disse que se fosse fazer um vídeo para essa música, queria contratar uma ótima agência. Fazê-lo sem a estrutura ideal estava fora de cogitação pra mim, tinha muito receio de prejudicar a mensagem. Mas, obviamente, eu não tinha recursos para isso. Uma sementinha nasceu e fui me inquietando. Eu já tinha todo o roteiro em mente e já havia editado alguns vídeos antes. Conversei com minha irmã e meu cunhado, Danielle Bretz e Ricardo Rodrigues, para ver se me ajudavam. A ideia era apenas tentar, se ficasse ruim não usaríamos. Sem ter feito nada parecido antes, mergulhamos no desafio. O resultado me surpreendeu.”, diz a artista. Por se tratar do encontro das águas, não poderia faltar uma potente menção à Pororoca.
O disco “Retalho de Mundo” será lançado no dia 25 de novembro. Mais informações no Instagram: @bellabretz.