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CONCERTOS NOS AÇORES

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Em sequência ao lançamento do disco “Canções Para Abreviar Distâncias: uma viagem pela língua portuguesa” em Lisboa, no dia 1º de Outubro deste ano, Isabella Bretz, Rodrigo Lana e Matheus Félix realizaram alguns concertos nos Açores (Ilha de São Miguel e Ilha Terceira), além de terem participado de outros compromissos como entrevistas e uma ação no Hospital do Espírito Santo.

Essa viagem teve o apoio da Azores Airlines, da Câmara Municipal da Praia da Vitória e da Rádio Voz dos Açores.

Veja algumas fotos:

CANÇÕES PARA ABREVIAR DISTÂNCIAS

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Em 2015, a cantora e compositora brasileira Isabella Bretz conheceu em Belo Horizonte o escritor português José Luís Peixoto, cujo trabalho lhe havia sido apresentado anteriormente por um amigo. Um tempo depois, ao entrevistá-lo para seu programa de rádio, emocionou-se mais uma vez quando ele recitou “Na hora de por a mesa”. Ao ver sua reação, ele sugeriu que ela fizesse uma música com o poema. Meses depois a música ganhou vida e foi enviada a ele. Seu retorno, muito positivo, foi um incentivo para que ela desse início a um projeto de poemas musicados, vontade antiga mas ainda não realizada. Alguns formatos lhe passaram pela cabeça, como uma reunião de seus escritores preferidos, contemporâneos ou não. Posteriormente, resolveu trabalhar apenas com poemas de escritores vivos, para que eles pudessem ouvir suas palavras através dos sons.

Instigada por sua paixão por interculturalidade, Isabella percebeu-se inconformada com a fraca presença de literatura estrangeira em português na sua vida. O que se escreve no Timor-Leste? Que poetisas e poetas passeiam por São Tomé e Príncipe? Que palavras nascem das canetas cabo-verdianas?

Decidiu, então, gravar um disco com 8 poemas musicados: todos de países que têm o português como língua oficial. Após um processo de leituras e pesquisas, escolheu quais escritores estariam presentes no disco: Adélia Prado (Brasil), José Luís Peixoto (Portugal), Mia Couto, (Moçambique), Conceição Lima (São Tomé e Príncipe), Vera Duarte Pina (Cabo Verde), Odete Semedo (Guiné-Bissau) Ana Paula Tavares (Angola) e Crisódio T. Araújo (Timor-Leste).

Mesmo com o plano feito e a maioria dos poemas já musicados, o projeto só existiu verdadeiramente devido ao interesse do pianista e produtor musical Rodrigo Lana em torná-lo realidade, através de uma parceria com o Música Mundi. Seu sócio, o violinista Matheus Félix, entrou no barco e os três desenvolveram o disco ao longo de 10 meses. Assim nasceu “Canções Para Abreviar Distâncias: uma viagem pela língua portuguesa”, que recebeu o apoio institucional da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP.

A sonoridade não foi pensada de forma homogênea, mas seguiu o que cada canção pedia individualmente, de acordo com os sentimentos e sensações que os textos os transmitiram. Piano, violino e violão são os instrumentos centrais; acompanhados de acordeon, baixo, viola, violoncelo, percussões, instrumentos digitais e outros efeitos.  Ao vivo, o trio oferece uma outra experiência, apresentando as músicas em arranjos para instrumentos tocados por eles próprios, sem deixar de lado os sons digitais.

A capa foi feita por Jackson Abacatu e oito ilustradores brasileiros foram convidados para representarem os poemas em obras que estão presentes no encarte do CD. A decisão de trabalhar com escritores vivos tem trazido belas experiências. Em junho deste ano, Isabella, Rodrigo e Matheus tiveram o privilégio de apresentar a gravação do seu poema a Mia Couto, num encontro caloroso e cheio de trocas de experiências musicais e literárias. Em novembro será a vez de se encontrarem com Vera Duarte Pina, num festival literário em Cabo Verde, a convite da Embaixada do Brasil.

Assim, com palavras, imagens e sons, em meio a distâncias geográficas e temporais, a linguagem se faz um grande vínculo, mostrando anseios comuns que nos unem como seres humanos. O resultado disso tudo o  público conhecerá no Espaço Espelho D’Água, dia 1º de outubro, às 19h. Entrada Livre. 

Apoio: Junta de Freguesia de Rio de Mouro

OS BELOS VÍNCULOS QUE A MÚSICA NOS TRAZ

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Saímos de BH depois do almoço num domingo frio e de céu azul. Para nos auxiliar na pequena viagem, não um GPS: vários áudios separados por etapas do caminho, nos quais um sotaque do interior e um timbre macio descreviam cada cenário, curva, paisagem e possíveis enganações no percurso (e mesmo assim uma delas nos pegou). 

Chegamos e fui logo surpreendida. Era um vilarejo de pouquíssimas casas, cercado pela beleza exuberante da Serra da Moeda e pelos delicados sons da natureza. Ao lado da casa, por travessura do destino, um palco comunitário. Fomos recebidos pela anfitriã com uma conversa ao lado do carro, que depois evoluiu para uma conversa na varanda da casa, que, por sua vez, evoluiu para uma conversa lá dentro. O propósito do encontro (uma composição conjunta) foi esquecido por um longo tempo. As forças daquela simplicidade mágica não nos deixariam seguir qualquer roteiro, é óbvio. 

Vestimos os casacos para nos protegermos do vento frio e saímos para uma caminhada. Paramos nas ruínas de um casarão de por volta dos 1700 para ouvir uma aula de história. Fiquei impressionada com as paredes tão fortes, feitas de pedras perfeitamente encaixadas. Não poderia deixar de pensar em como aquilo simbolizava pra mim a importância de cada particularidade na construção de alguma coisa. Da mais pequenina até a maior, todas eram fundamentais na sustentação de tudo aquilo.

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O sol nos tocava de forma gentil e o calor chegou. Somando a isso nossas mudanças de local, foi um põe-e-tira-casaco o tempo todo. Dali escutava-se um som de águas, vindo de uma cachoeira escondida na mata da frente. Fomos até lá, estudamos a melhor forma de chegar e contemplamos um pouco a beleza da água caindo e as formas que ela criou nas pedras ao longo de milhares de anos. Ali, ao som da pequena queda e cobertos pelas árvores, falamos sobre a nossa pequenez perante o tempo e do espaço. 

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Ao voltar, mais uma parada na varanda, porém agora já falávamos sobre música (e olha que é difícil um encontro de músicos demorar tanto pra chegar no assunto). Giancarlo nos apresentou um instrumento que nunca tinha visto antes e cada um o explorou um pouquinho. Os nobres e jovens rapazes entraram para dar início ao que fomos, de fato, fazer, enquanto eu e Sol prosseguimos na troca de experiências, sensações e sentimentos. O dia já ía embora, a montanha, feito um camaleão, já tinha mudado de cor conforme o sol se despedia e o poente recebia a noite, ainda mais fria, com muita generosidade. 

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Entramos e pensei: vamos trabalhar, então. Mas antes disso Sol preparou um chá quentinho que cheirava em toda a casa. Os ingredientes na panela eram muitos e mais pareciam uma pintura. No armário da cozinha, uma coleção de grãos, ervas, sementes, temperos e outras coisas mais, que já levaram mulheres à fogueira na inquisição e expedições megalomaníacas em tempos passados. Mas ali, em pequenos potinhos de vidro descansando na prateleira, pareciam tão normais e inofensivos. Pão-de-queijo feito por ela assava no forno. Fomos alertados de um pequeno acidente: inversão dos queijos, foi parmesão demais. Para ela, ele estava fadado ao fracasso, tinha desandado, traído suas expectativas, era a materialização da falha, um absurdo, sendo que só estava ali porque já tinha sido feito, mesmo. Algum tempo depois todos atestaram a perfeição do engano: estava deliciosamente gostoso!

Nos sentamos em círculo e trabalhamos na canção, tendo como base o handpan produzido pelo próprio Gian. Muitas ideias surgiram, cada um colaborou com suas impressões, sugestões e, aos poucos, peça a peça, o quebra-cabeça foi sendo montado. Matheus no bandolim, Rodrigo na gravação, Sol e eu nas vozes. Tarefa cumprida, fomos embora cansados e com o espírito cheio. Dormimos em Moeda (mas, é claro, nos perdemos no caminho até lá, pois num labirinto desse e sem as mesmas coordenadas não poderia dar em outra) e voltamos pra casa pela manhã, admirando nossa Minas Gerais pela janela e compartilhando nossos sentimentos acerca da experiência. Quando falamos sobre todas as coisas que fizemos até, de fato, começarmos a trabalhar, Rodrigo resumiu bem a situação: ali o tempo é outro. 

Digo, sem receios, que não existe nada nesse mundo capaz de trazer vínculos tão profundos de forma tão rápida e ampla como a música. Não existe língua, não existem fronteiras. Uma vez que o som chegou lá dentro e foi bem recebido, está criado o elo. Que dádiva é poder ouvir! Que presente é adentrar o mundo do outro, pelos cheiros, pelas imagens, pelo tato, sabores e sons. 

Conheçam o trabalho da Sol Bueno e do Giancarlo Borba! 🙂 

 

 

 

 

 

PEQUENEZAS

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Em um desses momentos festivos da vida, eu e Jackson Abacatu (animador, escultor, ilustrador, baterista, percussionista, pianista, pintor de músicas, viajante) descobrimos, em uma conversa, que ambos tinham ideias relativas a um projeto de coisas pequenas: eu na música e ele nos vídeos. Naquele dia resolvemos criar juntos um projeto chamado “Pequenezas”!

Um ano se passou (dois? não sei mais) e aqui está ele! Juntou-se a nós Rodrigo Lana (pianista, produtor musical, mixador, masterizador, alquimista dos sons, lutador de lutas sssportivas) para cuidar do áudio e também compor e tocar.

Sem periodicidade definida publicaremos nesta página as pequeninas obras, uma faísca daqui, uns fiapinhos de lá.

 

SAIBA MAIS! 

 

SONORA ABRE INSCRIÇÕES PARA PRODUTORAS

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O Sonora – Ciclo Internacional de Compositoras abriu inscrições para novas cidades/produtoras!

Para se inscrever basta entrar no site www.sonorafestival.com e preencher o formulário. Podem se inscrever compositoras ou produtoras que quiserem realizar o evento em qualquer cidade do mundo!

Isabella faz parte do Sonora como responsável pelas edições Lisboa e Dublin. 

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O Sonora é um festival internacional de composição feminina, que teve origem no Brasil e é organizado de forma colaborativa por autoras/produtoras em diversas cidades do mundo. 

Reconhecemos que a presença desigual das mulheres no mercado musical e a falta de representatividade acabam por desestimular outras mulheres a se enveredarem por certos ofícios na música. Isso, por sua vez, reforça e embasa mitos de incapacidade feminina como instrumentistas, regentes, arranjadoras e compositoras.

 O incômodo com esse contexto formou uma rede de mulheres e a interseção entre ideias, disposição e grande empreendedorismo de compositoras deu início ao que hoje intitulamos “Sonora ­- Ciclo Internacional de Compositoras”. 

 Trabalhamos para que mulheres no mundo inteiro apresentem com confiança seus sentimentos e opiniões através da música.  Por meio de shows e outras atividades, o Sonora constitui um lugar tanto de divulgação e exposição das potencialidades individuais das autoras, como também um espaço de reflexão coletiva, que promove o encontro de compositoras das várias vertentes e gêneros musicais.

 

 

 

OS DESAFIOS DAS MULHERES NO MERCADO MUSICAL

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Olá, pessoal!

É com MUITA alegria e com o coração cheio de esperança que, neste 8 de março, compartilho com vocês um artigo que escrevi a convite do Kiko Loureiro! Nele, falo um pouco sobre os desafios que as mulheres encontram nas mais diferentes atividades dentro da carreira musical. Sabemos que é um meio muito machista, mas podemos transformar essa realidade.

Que a igualdade de direitos e oportunidades não seja apenas um sonho.
Um grande beijo a todos!

*** Para quem não conhece, o Kiko Loureiro é o guitarrista da banda Megadeth, com a qual ganhou um Grammy este ano! Kiko é o idealizador de um curso maravilhoso sobre Music Business e tem várias iniciativas para desenvolver nosso mercado.

 

Para ler o artigo, clique aqui.

O QUE APRENDI COM O SONORA

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O “Sonora – Ciclo Internacional de Compositoras” é um festival que está sendo realizado de forma colaborativa em mais de 20 cidades em 6 países diferentes. Surgiu do anseio de mostrar e incentivar a força da mulher compositora, espalhando suas criações regadas a sensibilidade a quem quiser ouvir. A ideia de criar um festival foi da Larissa Baq, em consequência do movimento Mulheres Criando iniciado por Deh Mussulini. A ideia inicial foi expandida devido ao trabalho de diversas compositoras em várias cidades do Brasil e do exterior. De todas as experiências que foram compartilhadas até agora, foi unânime a energia indescritível durante o evento.  Eu fiquei responsável pelas edições de Lisboa e Dublin – onde não foi diferente. Depois dessa vivência maravilhosa, não poderia deixar de compartilhar com vocês algumas coisas que aprendi e relembrei:

1) Se desafiar a algo novo e maior pode ser assustador no início, mas é mais que necessário.

2) Não deixe uma ideia morrer porque os recursos não estão na sua mão naquele momento. Pense sempre em formas alternativas de realizá-la. Sair do caminho tradicional é sempre uma boa opção.

3) Não deixe uma ideia morrer devido ao tempo que levará para acontecer. Ele vai passar de qualquer forma.

4) O poder da rede é absurdo. Nós, como sociedade, podemos realizar absolutamente o que quisermos. Basta tomar a decisão.

5) Muitas pessoas só vão querer se envolver depois do trabalho pronto. As que estão dispostas a construir com você devem ser valorizadas, cuidadas e guardadas no coração.

6) Pedir ajuda é um bálsamo. Não precisamos saber ou dar conta de tudo.

7) Sempre poderia ser melhor ou pior.

8) Celebre as conquistas, seja grato e use-as como combustível para buscar o que ainda falta. Apegar-se ao vazio é sabotar-se.

9) Adaptar-se e reajustar os planos é imprescindível para a saúde mental.

10) Existem habilidades escondidas em vários cantinhos, esquinas e ruelas em nós. Só as descobriremos se nos expusermos às situações que as farão florescer.

11) Errar é ótimo. O quanto antes, melhor. Há de se ter os olhos abertos, pra perceber logo.

12) Todos estão minimamente querendo acertar. Ninguém (ou quase ninguém) sai de casa pensando “hoje vou rachar a cabeça ao meio, prejudicar a vida da galera toda e ter o pior dia da minha vida”.

13) A música fala de alma para alma. Desconheço algo com poder conector semelhante.

14) A simplicidade é a mais bela das coisas.

15) O universo feminino é mágico.

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Agradeço a cada pessoa que colaborou para que esses dois eventos acontecessem. Sou também muito grata a todas as compositoras das outras cidades que se empenharam tanto para que esse sonho coletivo se tornasse realidade.

Para conhecer mais, ver as fotos, vídeos e notícias:

Sonora – Ciclo Internacional de Compositoras

Sonora – International Cycle of Female Songwriters

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Sr. Quirino

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Tarde de quinta-feira, clima agradável, cidade cheia. Cheguei com meu violão e entrei no Café da FNAC. O técnico do som não havia chegado ainda, então sentei pra esperar um pouco. Observei o movimento, vi as pessoas namorarem tablets e afins na seção ao lado. Metade das mesas estava ocupada; algumas com pessoas sozinhas, mexendo em seus computadores, outras com pessoas em reunião. Cheesecakes e tortas roubando a atenção no balcão. Olhava o relógio e o tempo não passava: chegara cedo demais.

Pouco tempo depois olhei para o lado e vi uma figura levemente conhecida. Um brevíssimo exercício mental e a resposta me veio: “Ah! É ele”. Já o tinha visto naquele mesmo lugar, algumas semanas antes, na apresentação do meu conterrâneo cantautor, César Lacerda. Não pude conter o sorriso. Aliás, foi uma gargalhada tímida e silenciosa – mas não falei nada. Esperei pra ver se era o que eu pensava que seria. Cinco da tarde, o Sr. estava em um grupo de umas cinco pessoas, conversando e rindo. Segurava algo nas mãos. Olhei, conferi de novo pra ver se era ele mesmo, mas a presença de sua pequenina esposa me trouxe a confirmação definitiva. Lembrei dela também. Marcaram dois lugares na primeira fila e voltaram para o cantinho perto da janela, onde estavam com os amigos. Eu olhava de lado pra ver o que estavam fazendo, curiosa pra saber se eu também entraria para sua lista preciosa. Não demorou muito. Quando chegou perto e me disse “oi”, eu já imaginei, pois o César compartilhou comigo sua experiência, anteriormente. E comigo foi mais ou menos assim:

– Olá, tudo bem? (disse ele)

– Tudo ótimo! E você?

– Tudo bem. Estava aqui do lado tentando tomar coragem para falar com você.

– Hahaha! Que bobagem! Pode dizer!

– Aquela senhora é a sua mãe, não é?

– É a minha mãe, sim!

– Imaginei… Então, eu sou um colecionador de autógrafos! O primeiro que eu peguei já faz mais de 50 anos.

– É mesmo??? Nossa, que legal!

– É.. E eu guardo tudo em pastas. Tenho a pasta do teatro, a pasta da TV, a pasta da música. Mas não misturo com o fado. Tenho uma pasta só de fadistas.

– É essa pasta que o Sr. está segurando?

– Ah, nããão… Minhas pastas são enormes! Não é essa não.

E aí vem a parte mais legal. Eis que chega em minhas mãos uma folha com meu nome escrito no topo. Abaixo, uma foto minha colada num papel cartão azul (tipo uma moldura), colocada logo abaixo do nome.

– Nossa, mas que chique! É a minha foto! E três vezes, ainda!

– É porque essa foi a única foto que eu consegui. Aí repeti três vezes pra ficar maior. Mas coloquei nesse cartão porque se eu achar outra mais legal posso trocar depois.

– Ah, sim..

– Você é brasileira, não é?

– Sim, eu sou brasileira! De Belo Horizonte!

– Está bem.. Não coloquei porque não sabia, mas depois vou colar uma bandeirinha do Brasil aqui no canto.

Quanto capricho! Que situação mais inusitada! Você sai de Belo Horizonte City pra cantar em Lisboa e o nobre português descobre sua existência e quer guardar sua marquinha em meio a tantos artistas. Como não se sentir honrado? Como não se sentir feliz pelos caminhos que a vida traz, muda, leva? Escrevi um recado e assinei. Enquanto eu escrevia ele disse “Mas esse é o maior autógrafo que eu ganhei em todos esses anos! Com certeza!”. Aí fiquei mais feliz, o meu já era especial. (:

Pedi pra tirar uma foto e ele disse que era a primeira vez que tirava foto com algum dos artistas com quem conversara. Depois de ver a foto ele falou que provavelmente era a melhor foto dele que tinha.

O show começou e lá estavam eles, na primeira fila. Alguns dos meus novos e queridos amigos também estiveram presentes e até me deram flores. Um pocket show na loja de entretenimento com gostinho de teatro cheio. Com certeza a grandeza de um momento está na sua qualidade, nos detalhes; não no tamanho ou duração.

Pensei na minha coleção de autógrafos, ou seja, minha coleção de momentos. Pensei nas pessoas que a vida já me deu de presente. Quantas figuras! Quantas pessoas queridas, quantas assinaturas especiais no meu coração, quantas bandeirinhas diferentes coladas no meu álbum imaginário, na realidade da minha vida. Agradeci por essas delicadezas que aparecem no meu caminho. Quero as assinaturas, as bandeiras, as fotos, os momentos.  Fiz votos secretos de preencher minhas pastas até suas capas estragarem de tão cheias.

A mulher mais feliz do mundo

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O apartamento era lindíssimo, amplo, pé direito muito alto. A mobília, antiga. Cadeiras, sofás, poltronas, cômodas, mesas, tudo cheio de detalhes e estampas bonitas. Chique. Fotos por todo lado, sempre de familiares. Muitas em preto e branco, afinal de contas são muitos anos de histórias para contar. Depois de alguns minutos ali dentro chegou à porta com cabelos brancos cuidadosamente penteados, maquiagem, roupas elegantes e uma bengala, do alto dos seus 96 anos. Noventa-e-seis-anos. Vinha com passos lentos, um pouco tremidos, mas confiantes. Trazia um sorriso e leveza no rosto.

Mostrou orgulhosamente o apartamento numa região central de Lisboa e cada porta-retrato que ali repousava.  Abriu as portas de vidro da sala de jantar e nos mostrou a varanda com cadeiras brancas, uma brisa deliciosa e vista espetacular para o Rio Tejo. “Era dos meus sogros”, disse após eu elogiar a beleza do lugar. Ficou sabendo que eu cantava e disse que queria me ouvir. Nos levou até uma saleta onde tinha um piano antigo e razoavelmente desafinado. Toquei uma das poucas músicas que eu sei inteiras (The Hill – Marketa Irglova) e ela gostou bastante. Disse que era pianista, mas que há anos não tocava nada. Insistimos muito para que ela tocasse para nós, obviamente. Sentou-se e começou. As mãos já fracas não respondiam com tanta facilidade, os dedos apenas esbarravam em teclas que deveriam ser apertadas, mas as notas soaram muito bem. Os erros faziam da cena ainda mais bonita. Parou, disse que não conseguiria. Falamos que estava ótimo, incentivamos e ela recomeçou. Mudou de canção, mas por mais que se esforçasse os dedos não acompanhavam a mente rápida e muito saudável. “É a osteoporose”. E assim foi por três vezes, até se levantar dali ao som das palmas e “bravo’s!”.

Voltamos para a sala de jantar enquanto ela cantarolava, onde nos sentamos e ela nos contou um pouco da sua vida. Nasceu na Ilha de São Miguel, nos Açores. Conheceu o marido em um baile no clube local. Mas não conseguiu dançar com ele ali, pois tinha 19 pretendentes para dar atenção e seus passos de dança. Posteriormente casaram-se e tiveram 3 filhos. Tocava piano, desenhava, pintava. A música sempre fez parte da sua vida desde criança. “A casa estava sempre cheia de músicos”, contou. Viajou o mundo com o marido, estiveram no Brasil várias vezes. “Morreu há oito anos, com 86. Era um homem extraordinário, eeeeeextraordinário. Éramos muito apaixonados, ele não ligava para outras mulheres”. Eu escutava aquilo tudo com muita admiração e mil coisas passavam pela minha cabeça. No meio da conversa olhou pra mim e disse que me achava bonita, que não sabia por que eu ainda não era casada. Vixe, se eu fosse explicar pra ela… Haha! Acho que a sua vida amorosa dá uma melhor conversa do que a minha.

“Eu já quero ir lá pra cima!”. Rebatemos a afirmação imediatamente, dizendo que ainda era uma mulher bonita e cheia de vida. “Eu já fui muito ativa, fazia de tudo. Agora não. Agora estou cansada. Já quero ir.”. Eu me assustei, mas no fundo não achei tão absurdo, compreendi. Não falava como vítima, não tinha tristeza. Sua fala e sua expressão eram recheadas de leveza e luz. Não sei o motivo, mas essa pessoa me afetou de alguma forma. Durante a conversa soltou a mais bonita das frases, o mais profundo desejo do ser humano: “eu fui a mulher mais feliz do mundo.”. Tenho certeza que o pretérito não significa que ela não seja mais assim. Quer dizer apenas que seus tempos áureos já se foram, provavelmente com o seu grande amor. Conversamos um pouco mais e nos despedimos. Disse que gostou muito da minha mãe e de mim e pediu que eu voltasse para cantar mais.

Pensei no quanto a vida é diferente para as pessoas. Eu sinceramente acho que a ela é uma combinação de sorte e escolhas. Sim, todos nós estamos muito cientes de que as escolhas são fundamentais, a alma do negócio. Mas convenhamos, a sorte tem lá o seu lugar ao sol. Com certeza essa senhora teve muitas dificuldades na vida, das quais eu não faço ideia. Mas nasceu e cresceu em uma ilha paradisíaca, segura, se apaixonou profundamente e foi correspondida, casou-se, viajou o mundo, viveu uma vida confortável e longos anos ao lado do seu amor. Senti uma alegria genuína por ela, um alívio, a sensação de que há gente muito bem nesse mundo e que elas podem nos inspirar. Pensei em histórias não tão felizes que eu conheço e nas que eu não conheço também. Fechei os olhos (mesmo com eles ainda abertos) e pedi por sabedoria nas minhas escolhas e uma porção generosa de sorte na mochila. Além, claro, de ter me sentido grata por ter conhecido a mulher mais feliz do mundo.

Foto do google, meramente ilustrativa.

Uma história de alegria e gratidão

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Vamos imaginar um lugar. Assim, só imaginar. O céu azul clarinho, com algumas nuvens. O sol está lá, mas meio tímido. De vez em quando foge e aparece por cima uma manta cinza, fofinha. Eles brincam o tempo todo, saem e voltam, trocam de lugar. Raios de sol, chuvinha fina. As quatro estações em um dia só, assim fica interessante. As casas são majoritariamente brancas, com pinturas coloridas em torno das portas e janelas. Não há prédios. Muitas das ruas são contornadas por uma longa fileira de hortênsias. Hortênsias em toda parte! É tudo muito limpo e organizado. Há montanhas verdinhas e nas ruas que as sobem há túneis formados por árvores, mesas para pic-nic, parquinhos para as crianças. Quem quiser passar uma tarde agradável é só aparecer por lá. Se for pra namorar, então, magia garantida.

O que mais? Deixa eu pensar… Podemos dividir esse lugar em pequenas regiões. Em cada região, há um espaço no qual seus administradores trabalham. Lá também tem um auditório, um espaço cultural que a população pode utilizar para atividades de lazer, festas, música. Por falar em música, precisamos pensar em algo nesse sentido. Que tal uma filarmônica? Não, não… Uma filarmônica não, pois seria pouco. Uma filarmônica em cada região! Vai ser isso. Vários instrumentos, músicos de todas as idades. As crianças saem das escolas durante a tarde e passeiam na rua, em filas, grupos, umas até dançam sozinhas. Quem não dançava sozinho na infância? Uma pena perder esse belo hábito com a idade. Não há perigo nenhum nesse passeio, é um lugar seguro.

Pensei em um lugar para as pessoas usarem quando quiserem. Que seja público, bem cuidado, uma estrutura dessas que não dão pra ter em casa. Um lugar para festejar, que caiba muita gente! Gente dançando, cantando! Vai ser amplo, arejado e coberto de telhas, pra que haja proteção se o céu quiser desaguar um pouquinho na hora do “sim”. Porque é claro, penso ser um bom lugar pra casamentos também. Além disso, um jardim. Lindo, delicado. Um jardim público, aberto a quem quiser entrar. Ele não corre perigo porque as pessoas não ferem as flores, elas cuidam porque o espaço é delas.

Para trazer paz, o mar. Tranquilo, reconfortante, muito azul, por toda a parte. Pra diversificar, pedras. Pedras de todo jeito, de todos os tamanhos! Umas bem grandes, formando piscinas naturais. Outras bem pequeninas, como biscoitinhos. Pra ser um pouco mais bucólico, campos verdes, vacas, cabras. Mas preciso de algo grande, encantador, marcante. Alguma ideia? Não sei.

Um vulcão! É ambicioso, mas acho que fica bom. Pode ser um vulcão fora de atividade, pra não correr o risco de estragar tudo. Mas quero que seja uma experiência, não um lugar. Há uma abertura grande em cima, esverdeada. O espaço interno é grande, as “paredes” são manchadas, os tons de marrom e bege se combinam de forma perfeita. Uma música leve toca ao fundo. Tão bela e natural que parece vir da própria mente. Mas não, é tocada lá dentro, mesmo. Lá embaixo, um lago azul. Em sua superfície caem gotinhas d’água vindas do “teto”, “percussionando” as canções. Tic, tic, tic, tic…

Acho que poderíamos mandar alguém pra lá, um forasteiro para se encantar. Um arquiteto, pra admirar a cidade! Não… Um biólogo, pra se maravilhar com as belezas naturais! Também não. Pensando, pensando. Um cantor! Aliás, uma aprendiz de cantora! Vai combinar com os sentimentos que emanam dali. Pode haver um concerto com participação dos músicos locais, porque interculturalidade é uma coisa linda! E esses moços serão bem simpáticos e se esforçarão para aprender músicas novas. E vamos por dança também! Mas cantar depende da voz e das vias respiratórias, que são muito sensíveis e imprevisíveis. Vai que ela fica doente. É melhor escolher outra pessoa pra mandar. Pensando bem, dá pra ser a cantorinha mesmo. Ela vai ficar doente. E vai se preocupar. E no meio de tanto encanto vai ficar com medo de não conseguir, porque a responsabilidade é grande. Ela foi pra lá pra isso. Vai começar a piorar e mesmo com o maior dos esforços, a verdade é que não vai conseguir pensar positivo sempre. Vai ter vontade de chorar.

Mas vamos mandar essa mesmo, nesse lugar há pessoas espetaculares. E essas pessoas vão cuidar da tal menina. Vão passear com ela por essas ruas e praias e montanhas. Vão abraçá-la com seus cuidados. Vão enchê-la de palavras de encorajamento, faladas em sua língua mas sob um sotaque todo especial. Vão lhe contar as histórias das ruas, das festas, do povo. Vão cuidar da sua saúde e da sua confiança. Acho que podemos colocar a mãe dela lá também, para o processo ser mais fácil. E assim, tudo vai dar certo. Ela não vai melhorar 100%, mas há de cantar. E há de se apaixonar por aquele pedaço de terra no meio do oceano e por aquelas pessoas. E há de se lembrar de cada detalhe. Sempre. Será grata pelas surpresas da vida, pelos caminhos que tem cruzado. Pelo que os seus olhos têm visto, por ter suas palavras musicadas ouvidas tão longe. Vai voltar com sua mãe, irmã e cachorro.

Na confusão megalomaníaca dos seus pensamentos vai se lembrar de outras experiências fantásticas que já viveu. A menina será grata pelo coração cheio de gente, de línguas, de sotaques, de lembranças. Vai passar por muitas dificuldades – muitas mesmo -, vai ficar triste com situações, com pessoas e vai sentir esse mesmo coração machucado. Mas só num pedacinho. Ela vai ser pequena, mas vai ser cheia de amor. Muito, muito, muito amor. Sem fim.

E vai ter vontade de chorar de novo…

Porque é feliz.

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Um abraço carinhoso ao Ildeberto Rocha, Anabela Faria, a Câmara de Angra do Heroísmo, a todos da Rádio Voz dos Açores (Portugal), aos envolvidos no show e aos queridos açorianos que me fizeram companhia nesses dias. Estar na Ilha Terceira foi um presente na minha vida.

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