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A sua vida não é só sua

By julho 4, 2014julho 7th, 2016Uncategorized

Ontem, após a tragédia da queda do viaduto em Belo Horizonte, uma amiga (Sabrina Souza) postou a seguinte frase no facebook: “Amigos da Engenharia que colam em provas de cálculo: repensem”. A frase me lembrou algumas reflexões que eu já fiz e trouxe outros tantos pensamentos a essa minha cabeça inquieta.

Primeiramente digo que fiquei completamente triste e assustada com o que aconteceu. Essas obras custam valores exorbitantes, pagos com o suor de cada um que acorda às 6 da manhã e sai de casa pra desempenhar o seu papel. A maior parte dessa gente recebe o suficiente pra sobreviver, come o básico, se vira como pode, se diverte como dá. A carga de impostos sobre o brasileiro é gigantesca, perto do MÍNIMO RETORNO que recebe.

“Segundo ainda o IBPT, entre os 30 países com cargas tributárias mais altas, o Brasil é o que menos devolve em serviços e investimentos à sociedade. Além de trabalhar cinco meses no ano só para pagar impostos, o brasileiro precisa dedicar a renda de outros quatro meses para suprir a lacuna deixada pelos maus serviços prestados pelo Estado.”(ver texto completo aqui)

Isso é vergonhoso, é desanimador. E o nosso prezado Prefeito vem com essa de que “ACIDENTES ACONTECEM”? Tanto dinheiro que a população dá, para o governo fazer obras porcas, para dar lucro às empresas de transporte, para não ter saúde, não ter educação? Pra ver gente vivendo em condições vergonhosas, pra ver gente morrendo na fila do hospital, vítimas da violência dos bandidos e do Estado? DÁ DESÂNIMO. O Brasil tem muitas coisas maravilhosas, mas estamos cansados de tanta sujeira. E ISSO NÃO É CULPA DE PARTIDO NENHUM! Não me venham com essa ladainha nojenta! Se tem mensalão, tem mensalão tucano também! O que eu sempre digo: quer achar culpado, volte lá na colonização. O erro está NA PRIMEIRA PISADA EUROPEIA na terra do pau-brasil.  Já começou tudo errado. A forma como sempre houve abusos, sempre houve corrupção.

A solução é uma revolução na educação. Mas não apenas aquela educação da escola, a educação em casa. O pulso firme, a criação. Somos todos culpados. Quando começarmos a fortalecer o caráter (deixando de praticar todas essas “pequenas” corrupções do dia-dia), quando começarmos a ler, estudar e participar DE FATO da vida política do país, além de parar de compartilhar ideias no facebook sem o mínimo de apuração e questionamento, a coisa começa a melhorar.

Mas o que me despertou vontade de escrever foi outra coisa. Voltando à frase da Sabrina, fiquei pensando nisso. O viaduto não caiu depois de uma tempestade, nem depois de um terremoto. Ainda não fizeram a perícia, mas acho difícil não ser erro humano. É claro que todo ser humano é falho. Eu erro todo santo dia, todo mundo erra. Mas há uma coisa que também acontece com muita frequência, que está ali coladinho ao erro, mas é muito diferente dele: o DESCASO.

Quantas pessoas levam uma faculdade com a barriga só pelo título e depois se tornam profissionais fracos? Quantas pessoas morreram em episódios à la Palace II, por pura negligência? Quantas pessoas sofrem com atendimentos médicos mal feitos, por advogados sem conhecimento suficiente? Quantas pessoas sofrem por causa de acidentes de trânsito causados por quem não sabe dirigir ou dirige embriagado? Vivemos em sociedade, estamos conectados em uma grande rede. Nossas vidas se afetam todo o tempo. Nós e nossa história somos resultados das histórias de todos os outros.

Certa vez escrevi uma música que começava falando disso: “É assustador pensar sobre as escolhas que eu fiz desde criança. Como elas construíram um caminho, as pequenas escolhas que me levaram até você em um dia de chuva” (tradução do inglês). Se pararmos pra pensar sobre isso, ficamos loucos! O menor dos detalhes, cada grauzinho que mudamos na direção traz uma mudança enorme no futuro. E é assim que conhecemos pessoas, lugares, que realizamos as coisas. É assim que as perspectivas mudam, que somos mudados, que mudamos os outros. Tudo por causa da rede.

O descaso é, para mim, filho do egoísmo. É pensar que o que você faz é mais importante, que as consequências não importam tanto quanto o seu próprio bem-estar, mesmo que isso cause algo ruim na vida de outros. O descaso do viaduto é o mesmo do transporte, é o mesmo da habitação, é o mesmo da exploração de trabalhadores, é o mesmo das histórias de amor que deixam homens e mulheres com o coração partido. A fonte é a mesma. É a inversão de prioridades trazida pelo egoísmo, pelo interesse particular feito superior a todo custo.

Devemos buscar fortalecer nosso caráter a cada dia, olhar mais para o outro. Não estou dizendo de forma alguma que devemos viver em função de outras pessoas, apenas estou destacando que o individualismo (notavelmente crescente a cada dia) pode trazer consequências em todas as áreas. As vidas perdidas não voltarão. Que as famílias sejam confortadas. Que a justiça seja feita.

Pensemos no legado que estamos deixando. Deixo aqui uma reflexão para você que está lendo e para mim mesma: quando for estudar, quando dirigir, ao se relacionar fraternalmente e romanticamente e, não menos importante, quando praticar sua profissão ou estiver em uma posição de poder, pense: A SUA VIDA NÃO É SÓ SUA.

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